quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Ordenação sacerdotal

A minha ordenação foi aqui em Limoeiro no dia 7 de dezembro de 1952. Fui ordenado por Dom Aureliano Matos, na Catedral. Nesse dia só tinha eu para me ordenar, pois o colega Matoso foi ordenado em Russas, a família dele era de lá.
Relembro nesse momento as missas da padroeira, que enchiam a igreja.
Fiquei aguardando a primeira nomeação do bispo, o primeiro encargo, pode-se assim dizer. Fui vigário substituto de um padre já muito idoso de Itaiçaba, que adoeceu, e Dom Aureliano não podia me nomear vigário, pois o vigário ainda estava vivo. Fiquei, pois, como vigário substituto e foi essa minha primeira experiência junto ao povo. Foi extremamente doloroso, porque não tinha contato com as pessoas, não sabia como lidar. Minha vida, afinal, tinha sido muito limitada: do Seminário para casa, de casa para o Seminário. Um círculo extremamente restrito de relacionamento.
É como pegar alguém que não sabe nadar e jogá-lo na água...

Ordenação



Ordenação


Lembrancinha da Ordenação


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Tu es sacerdos in aeternum!

1952

Seminário maior

Um dos grandes amigos na época do Seminário Maior foi Agnelo Dantas Barreto. Identificava-me com ele, pois gostava muito de literatura, e me presenteou um livro que guardo até hoje. Foram meus contemporâneos também Dom Falcão e Dom Edmilson.
Havia um professor que eu admirava muito. Era o Padre Arquimedes Bruno, está em Paris, deixou a batina e hoje é professor em Sorbonne.
Outro professor que também exerceu forte influência sobre minha vida intelectual foi o Padre Luiz. Ele era de Pacoti. De muita cultura, navegava na literatura brasileira e universal. As aulas dele eram uma delícia, deixava-nos atentos. Sabia muito bem o grego e latim. Era fabuloso, perfeccionista até. Era professor de Escritura Sagrada, no Curso Maior.

Tonsura

Residência de tia Madalena
(29 de junho de 1949)

O seminário – início de uma nova vida

Eu estudava no Educandário Padre Anchieta e fiquei lá até outubro de 1939. Contraí catapora, deixei a escola e retornei para a escola de Mestre Afonso levado pela tia Madalena. Estava tudo certo para ingressar no seminário naquele ano, mas o Cônego Misael aconselhou aguardar que eu ficasse curado para então me matricular. Tia Madalena não gostou e disse que eu não iria mais para o seminário. Passado esse incidente e recuperado da catapora, começaram a fazer meu “enxoval” para a viagem. Por sorte meu pai estava com boas posses. Era um ano bom, muita produção.
Foi nesse ano de bonança que me prepararam o enxoval: roupa de cama, toalha de banho, sapatos, batina. Ganhei os sapatos de Pedro de Freitas, que tinha uma sapataria em sociedade com Luiz Alves. Doou-me sapatos durante todo o tempo em estive no seminário.
Comecei a estudar latim no primeiro ano. O professor era extremamente rigoroso, gostava de dar beliscão e bater com uma régua nas mãos dos alunos.
Só vim a refletir sobre vocação no Curso Maior, aos 18 anos quando já tinha uma compreensão de como era o mundo. E até tive minhas dúvidas, mas estava tão condicionado e moldado, que não me questionei profundamente e assumi que era verdadeiramente o que eu queria, afinal eu havia saído da roça para o seminário e sempre retornava do seminário para a roça.
Terminada a guerra em 1945/46, o seminário recebia muitos livros de escritores famosos; eu lia todos. O clima intelectual já era outro, mais aberto.

Momento de lazer na época do Seminário


domingo, 21 de dezembro de 2008

Vim para Limoeiro (cidade) em 1940, o ano da chegada de Dom Aureliano Matos. Entrei então no Educandário Padre Anchieta, que funcionava na antiga Associação de Limoeiro [hoje NIT]. Fiquei na casa da tia Madalena, que exercia forte influência na minha educação. Lembro-me de alguns colegas, como o saudoso José Nilson Osterne, e de outros como Raimundo Saraiva, Antônio, filho de Deolindo Pereira, e Dr. Epifânio.
Não era menino rico, mas também não passava precisão. Tínhamos terras, carnaubais. Meu pai tirava renda da cera de carnaúba, do algodão, do feijão e do milho. Até nos piores anos nós tínhamos como escapar, pois ele conhecia a terra e sabia tirar dela o sustento. Mas a grande seca de trinta e um e trinta e dois não me sai da lembrança. Chorei de fome.

Casa onde nasci e cresci, no Sapé

sábado, 20 de dezembro de 2008

Nunca ouvi falar de nada especial que tenha ocorrido por ocasião do meu nascimento. Sou o terceiro filho. Tenho três irmãs: Rosa, Doca e Consuêlo.
Meu pai, da família de Manoel Furtado de Mendonça, homem sisudo, de pouca conversa, trabalhador, agricultor, um homem muito sério. E minha mãe, filha de Joaquim Pitombeira e Rosa de Freitas Pitombeira.
Andei pesquisando sobre a origem das famílias limoeirenses e verifiquei que as famílias Furtado de Mendonça e Joaquim Noronha de Andrade traduziam exatamente a origem do nome do meu avô, Joaquim Noronha de Andrade Pitombeira.
Mas, reportando-me à minha infância, tenho poucas lembranças a não ser as marcas de uma educação rígida. Morávamos com meus avós paternos, Manoel Furtado de Mendonça e Felícia Maia, que era uma mulher muito severa. Como era de se esperar, não escapei de duas boas sovas. Minha avó não alisava lombo de menino. Errou, passava-lhe a lâmina lisinha de talo.
A vida no Sapé era ma tranqüilidade... Quase não ia à cidade antes de entrar para o seminário. Só em época de Natal ou uma ou outra raridade, para assistir à missa aos domingos, às 4 horas da manhã.
Trabalhava na agricultura. Meu pai tinha umas terra na Baixa Grande e eu e minhas irmãs plantávamos e colhíamos algodão, feijão. Mas nem tudo são flores. A maior tristeza era quando, aos domingos, tinha que caminhar cinco quilômetros a pé (às vezes pedia um jumento emprestado); e eu ficava pastorando o gado que saía para beber água no “beiço” do mato. Causava-me ma profunda tristeza ficar duas horas ali sozinho esperando o gado matar a sede. Era minha obrigação. Quem assistia à minha solidão era um pé de catingueira grande lá na porteira do roçado, e eu, com medo ficava esperando, esperando... Seria essa a razão de eu hoje estar totalmente habituado à solidão?